Balada

Os dois amigos estavam sentados na sala, um olhando o celular e outro tomando um copo d’água. Finalmente tinha dado certo de um visitar a cidade com outro e, após um almoço caro (porém saboroso), tinham passado a tarde com as respectivas namoradas e agora já se preparavam pra sair.
- Será que elas vão demorar? A essa hora demora pra achar um carro — disse o que mexia no celular.
- Sei lá, já faz uns 45 minutos que elas estão lá dentro. Vamos chamar?
- Não, não. Se chamar elas alegam que você atrapalhou e lá se vai mais meia hora de atraso.
- É bem isso mesmo… — colocou o copo na pia, parecia mais sério. — Falou com ela?
- Não.
- Por que?
- Não tem mais nada pra ser dito, passou.
- Você disse que ela queria um tempo, espaço…
- Ela não quer nada, ela já disse que não quer.
- Você também não ajuda, puta que pariu, cada besteira que faz.
- Eu fiz tudo que pude — já não tinha mais o celular em mãos. — Tentei conversar com ela e me ignorou. Mesmo eu tendo errado, ela não quis conversa. Eu achei que poderíamos ter mudado mais, tentado de novo, mas nada resolveu.
Ouviram risadas altas vindo da suíte. As namoradas estavam ficando prontas.
- Mas você deixou claro que queria tentar novamente — disse o dono da casa.
- Todas as vezes que consegui.
As risadas diminuiram de volume, elas deviam ter entrado novamente no banheiro.
- E você, falou com ela?
- Não.
- Por que?
- Não tem mais nada pra ser dito, passou.
- Você disse que ela queria um tempo, espaço…
- Ela não quer nada, ela já disse que não quer.
Você também não ajuda, caralho, cada besteira que faz.
- Eu fiz tudo que pude — já não tinha mais o celular em mãos. — Tentei conversar com ela e me ignorou. Mesmo eu tendo errado, ela não quis conversa. Eu achei que poderíamos ter mudado mais, tentado de novo, mas nada resolveu.
- Mas você deixou claro que queria tentar novamente — disse o dono da casa.
- Todas as vezes que consegui.
Ouviram as vozes bem perto da porta.
- Elas estão vindo. Você acha que estamos fazendo certo?
- Em que sentido?
- Aqui com elas e…
- As outras lá?
- Sim — o amigo visitante olhou profundamente para o outro.
- Cara… é melhor a gente pedir o Uber.
As namoradas saíram, sorrindo. Os namorados corresponderam encabulados. Foi uma grande noite, entre risadas, bebidas, música e a certeza de estarem incertos.

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